Este artigo foi publicado na rubrica "Exclusivo" do Jornal da Gloriosasfera nº 6.
Desde que me conheço sou benfiquista certamente porque o meu pai e irmãos mais velhos também eram.
Muito jovem fui viver em Moçambique para uma cidade chamada Quelimane.
Para além de estudar, como era um apaixonado por futebol e benfiquista, decidi ir treinar ao então Benfica de Quelimane tendo sido inscrito na equipa de júniores.
Convém lembrar especialmente para os mais jovens que Moçambique foi colónia portuguesa até 25 de Junho de 1975, data da sua independência. E que, antes da independência, havia Benficas e Sportings nas principais cidades mas quase nenhum Porto! Lembro que Nené e Shéu vieram do Benfica da cidade da Beira. De Quelimane, veio o meu colega e amigo Eurico Caires, pai do também ex-jogador do Benfica Bruno Caires. Isto para não falar dos mais antigos, casos dos nossos Eusébio, Coluna, Costa Pereira, etc.
Os estudos levaram-me até à capital de Moçambique, na época Lourenço Marques, actual Maputo e aí como não podia deixar de ser, a paixão pelo Benfica levou-me ao Benfica de L.Marques.
Poucos anos mais tarde dá-se a independência e com ela a grande debandada de portugueses rumo a Portugal. Eu decidi ficar. O futebol federado já tinha ficado para trás por vários motivos mas o principal talvez tenha sido a falta de estofo físico, passando a jogar por passatempo no campeonato de trabalhadores disputado entre empresas.
Os clubes moçambicanos sofreram na pele a debandada dos portugueses pois eram os seus principais dirigentes. Muito jovem para os padrões habituais do dirigismo desportivo, em 1976 fui convidado a integrar a direcção do ainda Benfica mas já de Maputo em vez de L.Marques onde fiquei até 1982, data em que resolvi voltar para Portugal.
Foram 6 anos da minha vida que nunca esquecerei pela forma apaixonada e intensa com que me dediquei ao clube, primeiro como Secretário-Geral e depois como Vice-Presidente, acumulando com a chefia do departamento de futebol.
O clube não tinha ainda grande estatuto no panorama futebolístico moçambicano. A maioria estranhará mas explico. É que na então Lourenço Marques, a filial do Benfica começou por ser o Desportivo que ainda hoje conserva a águia no seu emblema mas cujas cores eram o preto e branco e só em 1955 foi fundado o Benfica pois alguns benfiquistas não se reviam naquele clube e quiseram ter um clube que equipasse de vermelho e branco e se chamasse Benfica. Com a divisão de adeptos e falta de “mecenas” o Benfica era apenas o quarto clube, atrás dos históricos Desportivo, Ferroviário e Sporting de L.Marques fundados nos anos 20.
Até à independência o Benfica não tinha nenhum campeonato ganho, quer distrital, quer provincial, apenas umas Taças de Honra e vitórias em Torneios.
Curiosamente, a independência veio a ser benéfica para o Benfica e especialmente para o seu sucessor Costa do Sol porque o enfraquecimento dos outros ao nível do dirigismo e dos apoios financeiros veio equilibrar as forças.
Não durou muitos mais anos o nome Benfica, pois em 1978 foi decretada a mudança dos nomes, das cores, dos símbolos de todos os clubes que tivessem alguma ligação com o colonialismo.
Tivémos então de escolher outro nome. Grande dilema se nos deparou. Na altura a direcção do clube era composta por metade de portugueses e metade de moçambicanos mas todos com uma paixão em comum, o BENFICA.
Acabámos por escolher o nome Clube de Desportos da Costa do Sol pois as instalações do clube situavam-se numa zona muito bonita por sinal, junto à praia da Costa do Sol.
Manuel Oliveira
Nota do autor:
Para os que não me conhecem, ou não se lembram, fui dirigente do Benfica de Maputo, depois Costa do Sol, de 1976 a 1982, sendo (modéstia à parte) um dos obreiros pelo nascimento do grande Costa do Sol, tendo tido por companheiro o actual Presidente desportivo, Issufo Mogne e já na parte final desse período os actuais Presidente, José Neves e o Vice-Presidente, Rui Tadeu.
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